Decreto que se liberte o amor.
Que seja livre e puro.
Isento de sensaboronas
mesquinhices.
Decreto aos girassóis
que espreguicem suas pétalas
só pelo prazer de as espreguiçarem!
Decreto
às rosas rubras e aos brancos cravos
que exalem seu perfume
só pelo prazer do olfacto alheio!
Decreto
aos cardos e às papoulas
que sejam livres
sonoros
só pelo prazer de inverter os tons!
Decreto
que em concreto não há decreto
só pelo prazer
de ter prazer…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
A ternura do mundo afogou-se
em meninices ceifadas
por largas lâminas
requintadamente resplandecentes.
Tento conservar a pólvora seca
com paciência de caruncho…
Meus sonhos…
meus sonhos tangíveis…
És
palavras mudas num olhar explícito
carência indigna, de um beijo da alma
tal alvo cisne,
inquiridor de um pobre coração,
num sereno lago de águas tranquilas…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Lobrigo
um longo sortido de cores naturais,
previamente estudadas, para serem naturais.
Há mil caixas de suspiros, em alcofas acolchoadas,
ansiosa e demencial insagacidade!
Espalhafatosa e vociferante de lantejoulas,
de gravatas e de botões de punho
a voz mimosa de falsete, é feita estandarte.
Quase incontidamente me permito não ripostar.
Oh liberalismo
apregoado com ira e soberba desnudado de verdade
sob pedras pára-quedistas de traição.
Questiono os caprichosos ângulos obtusos de norte e sul…
Eu
desejo meramente depilar-me dos emplastros…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Há uns estranhos sons
uns amargos roncos
no leilão dos valores tradicionais!
No cabo e de uma haste metálica,
o florete ostenta orgulhosamente
a lâmina prismática e pontiaguda,
de fio e contra fio
cumpridora de seu dever.
O vento sopra com ira
e calca a pilha de versos.
Afinal
os afogados navegam sempre de boca para baixo.
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Há galhos, como braços, em oração para o celeste
volvidos, pedindo um pouco de sol.
Oração difusa, incontida, penosa,
e o sol, é mole.
Há violetas pretas
de raízes de renda,
abertas,
fora da terra.
Há um espelho, de bruços no lago.
Há o frio da adaga no meu dorso desnudado,
na noite cor de maçã.
Há um vento lento, de saudades indefinidas.
Na montanha que rompe a floresta
há um silêncio acetinado
que fecunda a luz maga
que fermenta
as horas que vegetam na minha tarde gorda…
Eu,
de subtis núpcias do olhar
quero inflar, enfunar e navegar…
Eu
quero subir à garupa
apertar os freios
e seguir a galope
no meu cavalo de pau.
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Na manhã molhada
eu só quero
lentamente
muito devagar
encostar os lábios
roçar levemente a língua
e sorver
uma laranja estupidamente doce.
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Não sei porque me detenho…
Entre sombras ocas
encontro uma sarcástica quietude…
Quero poder chorar o Outono
nos confins da planura…
Quero saciar
a água solitária que escorre nas paredes inauditas…
Nas tardes e manhãs, que num esgar se tornam anãs
oscilam clarões de promessas de virgindade…
Terão as rosas vergonha de ter espinhos?
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Com os sulcos do tempo nas raízes da memória
os gestos já gastos repetem-se
de uma forma automatizada.
Maquinalmente infatigável
infatigavelmente mecanizada…
Sinto-me absconsa aquando do ocaso!...
Por vezes
há o fechar os olhos!
Há o sonho
onde o coração é estrela polar…
Há a libertação
de uma existência sonâmbúlica…
Há que dissociar e abscindir!...
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Fechar os olhos.
Sentir na boca
o bater de asas
de uma mariposa multicor…
Sentir o anil
espraiar-se em mim…
Teus lábios afloram os meus…
Entreabrimo-los…
A mariposa
lentamente
passeia-se por nós…
Alastra-se o anil…
Somos embalados
por uma brisa morna
e perfumada…
Por nossos corpos
alastra-se o matiz…
Irreflectidamente,
vamos desvendando
o segredo de ouro…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
No desassossego do meu dia
tento transpor as minhas nuvens
mas meu passo fatigado
tem um ululante som
tais caravelas à deriva nas ondas uivantes…
Os horizontes já enevoados
inexoravelmente cruéis…
A avidez consumista cativante dos tempos
não permite
beber os segredos
nem abrir a porta dos mistérios…
Bárbaro grito de meu ribeiro!
Barbara dança de cristal
que dorme dormente na cansada calçada.
Edite Gil
(Registado o IGAC)
Tagarelas lágrimas cristalinas
desabotoam um tom loquaz
tal caravela do sentimento.
Há cores anónimas
na rebuscada busca.
Não quero aprender a conjugar o verbo!
As horas contadas tiranizadas pela vida!
Perdi uma framboesa
entre ocas ideias obesas…
Quero sentir o cheiro da terra lavrada, sobre mim!...
Edite Gil
(Registado o IGAC)
Na ânsia descomedida do prolongamento
a salsugem do tempo salgado
perpetua momentos férteis de tristeza…
No crepúsculo índigo
denoto a herança empobrecida da tristeza…
Não tenho os pecados em dia!
O tempo gasta o tempo e oferta-lhe
açoites mestiços do místico tempo imprevisível…
Silhuetas quixotescas
inspiram insanidade e sofreguidão espavorida.
Eu,
exilada em meus muros de receios tamanhos
essência…
Sintaxe do ser na alquimia da infância…
Alva pomba de espuma na escuridão da insolência
onde estrelinhas choram…
Imergindo em mim emerge nada…
Já tudo é pertença da paisagem…
Até o sabor a rosas, lírios e groselha …
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Observo o céu inspirado!
Observo o verde urgente!
Observo o binómio do côncavo e o convexo.
Observo o cumular de memórias na memória.
Afogo o mar com estrelas.
Imponho o limite decretório.
Inclino outeiros e mato arribas.
Lanço versos, tais pétalas,
espezinhadas num chão enlameado…
E por fim
rasgo toda a ilusão, num desejo de unhas compridas…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Quero
a insistência incompreensível da interpretação da vida,
nas fendas da azáfama.
Quero
conhecer os som da crepitação das minhas palmas.
Quero
aromas exóticos
no fardo fadado do trilho da dor
no ângulo mais recôndito da alma
e na aragem luzidia…
Quero
que alguém pinte minha alma sem corpo.
Quero
o som racional no instinto da racionalidade.
E porque os sonhos não dormem
Quero
fazer da palavra, semente e plantar a consciência.
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Com precisão de esmo
a brisa morna
abranda luz da madrugada
num doce mar amargo…
Omito as rajadas de tédio
numa envolvente vertigem…
Na imprudência solitária do jardim
o rabisco de nuvem
fede sentenças
num perfume que calcina as almas.
O vento sopra rubi
a assimétrica nevasca borrasca que no tempo navega…
Vendo às trevas
o dia do quintal das infâncias.
Lavro a ironia
e procuro um sorriso nas gavetas de quimeras…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
À minha afilhada
Sem pedir licença
a dualidade incandescente da memória
permite que as nuvens chorem pela alvorada
na semântica contundente do progenitor
que cede ao exílio voluntário
da areia bronzeada…
Nua e pobre a tarde de estio…
A formosura do silêncio
ofusca o subtil silvo do bosque
numa gargalhada cristalina…
A vida prima pelo moer até à extrema alvura…
A alma escurece…
O sol poente deixa-se embalar por uns braços de oiro…
A flor em botão só permite palavras soluçantes
duma água tagarela…
Só permite cultivar, no céu, a esperança do sonho
num arco-íris sem rima nem engenho…
Mas tu
és a fragrância das flores que exalam maresia
quando finda a ceifa…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
No étimo da memória
a reminiscência de sorrisos…
Declaro pobreza assumida na demência das mentes!
Traço traços, faço rabiscos, arrisco uns riscos paradoxos!
Finco os pés finos e fico
mirando o trote das árvores.
Visto-me de paisagem…
No alfobre,
nem botão nem flor seca…
Esqueci as cores da juventude
e a gravidez das estrelas…
As andorinhas engripadas não rumam para Sul!
Submirjo de beijos rubros de doçura
na cor travessa do sentimento!
Na agonia da ira do amor
quero a embriaguez de verdade!
Ordeno ao odor do crepúsculo coruscante, reluzente
a insânia insónia!
Estou tão perto de nada no dorso da calçada
presencio a canção das águas…
Afinal
só quero de volta a minha alma
e desenhar nostalgias desertas distraidamente excêntricas…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Qual é o teu lobo interno?
O medo, o ódio, a ira?
Oh!
erva daninha incauta e viçosa
que viço o teu
neste muro de baluarte abandonado
abonado de abandono ao crescimento desmesurado
desmesura na falta de vida de um muro
muro hercúleo de pequenas pedras
sem fiel
sempre só fiel a si próprio
qual é o teu lobo interno?
Que sábia metamorfose
te fez perder o Norte?...
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Nesta amalgama de emoções
com que a vida nos brinda
os sonhos são ilusões
d’um sono que a noite finda
Vida é frieza e mentira
raiz de flor com abrolhos
é alegria, lágrima reflectida
na imensidão de uns olhos
Não rireis todos os risos
nem as lágrimas chorais
não vereis sois nem granizos
redes, remos ou demais
Mas a vida tão instável
mói-te… até seres maleável
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Pisei um cesto de flores
numa veemência requintada
numa qualquer artéria do pensamento
para perfumar a ideia
que assaltou de soslaio
as sementes da flor do sonho
um qualquer lugar sem Norte…
Quis pintar bonança num olhar ofegante…
E uma pujança ignóbil
desnuda a sobriedade
arrebata a esperança
e tece-lhes lautas exéquias…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Lancei os dados
num jogo oco
e …
Há que
sem pudores verbais
nem formas eufemísticas
expor as insanidades.
Vive-se num mundo sem calor
sem estações nem apeadeiros
onde a jactância de ostentar sonhos,
e desabotoar fantasias,
se faz de braços cruzados,
e é estandarte e bandeira.
Terei perdido a noção do certo e do errado?
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Seria mais fácil cobrir a nudez
para entrar num mundo
onde prevalece o labor do erro altruísta.
A vida sacode as raízes
e questiona o apego à terra…
Ah…
A incandescência da dualidade do ser…
Mas a extrema indigência
mantêm a cadência
de uma atroz demência
sem clemência.
E não se choram todas as lágrimas…
E não se cristalizam todos os risos…
Se ao menos se pudesse abandonar a ira da dor…
Se ao menos se pudesse tornar falha a acendalha da batalha…
A rudimentaridade está lá.
É intrínseca
devoradora
voraz
e não há banho de decência que lhe valha.
Edite Gil
(Registado no IGAC)
A minha vida mutilada
não tem o brilho sonhado
de veia aberta
em rosa descarada
inconsciente e viçosa.
Mirrou de uma forma pérfida
ante o flagelo da visão
do sonho a desgrenhar-se
tal impotência de onda
assassinada pelo mar
numa qualquer praia longínqua…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Posterguei a esperança
e mirei-me com verdade!
Omiti a etiqueta,
as vírgulas e os parágrafos,
fitei meu âmago,
perscrutei meus velhos sonhos
cansados de tão sonhados
combalidos e amarfanhados…
Meus esboços e intentos
delongados pelo tempo,
pelo anseio do concreto,
minha impotência insanável,
meu viver eunuco,
eu mirei-me com verdade!
e posterguei a esperança…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
ler teus olhos
gravar meu nome em teu coração
ficar a ferros em teu intelecto
abandonar-me a teus caprichos
tombar da ara
amar-te suavemente
tal chilrear de rouxinol
ou com a intensa fúria
de famintos cães de caça…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Sinto nos lábios
a palavra a embalar
o verbo a saltar
o verso que se agita.
Que grita.
Sem destino vai fugir
alguém o há-de ouvir
e talvez sentir…
E talvez entenda
o verso que é prenda
a si o prenda…
Talvez misantropo
talvez filantropo
e brinde com copo
de azul temperança
de verde esperança
de rubi ou de tinto
e eu
ab sinto…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Não quero as nuvens negras
ameaçando tempestades!...
Eu quero ser o pássaro branco,
o pássaro leve que desliza
alegre na brisa que tamborila…
Quero acender uma estrela num chão de palavras…
Quero o som da chuva
imortalizado na delonga de um verso…
Eu quero o mar distraído,
e o odor do tempo suave,
e os restos de Atlântico nos olhos…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
. FIRMEZA
. AVESTRUZ
. ...
. SOLIDÃO
. TROVADOR
. ERRANTE
. DÚVIDAS
. SUSPIRO
. DELÍRIOS
. RELENTO
. CIRCUNSPECTO OU IMPRUDENT...
. POEMAS DE PLÁSTICO, SEM C...
. GOTAS
. CONFESSO
. Lançamento do meu livro O...
. FADIGA
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. AFIVELAR